domingo, 8 de março de 2009

Pensar global

Todos os que estudámos biologia no secundário ouvimos que “a população cresce numa progressão geométrica e os alimentos numa progressão aritmética” sendo, portanto, apenas uma questão de tempo a escassez de alimentos.

A realidade é crua e mostra-nos que no último meio século a população mundial passou de 4 mil milhões de habitantes para 6 mil milhões! Estamos a falar de um crescimento de 50% para a população mundial num curto espaço de tempo mas, se falarmos apenas daquelas que vivem abaixo do limiar de pobreza, então a realidade é ainda mais dura; nos mesmos 50 anos a população mais desfavorecida passou de 2 mil milhões de pessoas para 4 mil milhões.
O número de pobres (paupérrimos) duplicou, ou visto de outro prisma, a população apenas cresceu em pobreza.

É uma evidência que as situações de pobrezas estão regularmente ligadas a famílias numerosas, ou de uma forma mais lata, nos países pobres, especialmente da África e da Ásia, o crescimento populacional é muito significativo e, pelo contrário, no mundo dito desenvolvido, a população tem tendência a decrescer.

À medida que esta realidade prolifera, aumentam também as (chamadas) instituições de caridade que por um lado, apoiam (nem sempre da melhor maneira) estas pessoas que vivem situações de exclusão extrema mas que por outro lado, através de um discurso patético, defendem o contínuo aumento da natalidade como se o mundo desenvolvido fossem um mundo à parte.

Custa-me ouvir as entidades religiosas e os partidos políticos (especialmente os de direita e extrema direita) a clamarem por um aumento da natalidade e com um discurso catastrófico quando o crescimento populacional em Portugal (e na Europa) é zero ou ligeiramente negativo, escondendo que a nível mundial a população cresce de uma forma galopante e muito especialmente em número de pobres.
Mais estranho ainda é que são estes mesmos partidos a não querer que os nativos de outros países se fixem no nosso país, apesar do decréscimo da população nacional.

Objectivamente, apenas uma questão de egoísmo levará alguém a tomar atitudes xenófobas, como a que relatei acima, quando é claro que a Europa necessitará de cerca de 50 milhões de emigrantes nos próximos 20 a 30 anos, para manter o actual estado de desenvolvimento.

Outro ponto a reter é que a procura de alimentos e de bens leva as pessoas a rumar aos grandes centros em busca de comida e ocupação, desaguando muitas vezes em situações como a da cidade do Cairo com mais de 500.000 pessoas a viverem em cemitérios, ou de Pequim, Moscovo, Rio de Janeiro, Jacarta e outras, em que milhares de pessoas vivem nas ruas ou em favelas e se prostituem numa tentativa desesperada de sobrevivência.

Não podemos esquecer, também, que é dos 4 mil milhões de pobres que se alimentam as redes de tráfico de seres humanos, muito especialmente de mulheres e raparigas, de tenra idade, que são enviadas para os países “desenvolvidos” para serem exploradas e abusadas pelos senhores do mundo!

2 comentários:

  1. caro Luís Silva

    A natalidade pode não ser um problema global mas é concerteza um problema nacional. Desafio o Luis a indicar-me um só país em franco progresso e com a população a definhar.

    Dai justificarem-se politicas concretas de apoio à natalidade. E as razões são várias. Umas são éticas e morais. Outras são de equibrio nos contributos para A SUSTENTABILIDADE do nosso modo de vida, ameaçado pela decadência populacional. Isto nada tem a ver com xenofobia...

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  2. Caro Manuel Henriques,
    O crescimento populacional é um problema global, o que não invalida que nalguns países haja redução da população.
    O crescimento da população acontece na razão inversa do desenvolvimento e da criação de riqueza, aí estamos os dois de acordo.
    Onde não estamos é no modo de resolver o problema.
    Eu defendo que a migração deverá compensar as falhas populacionais, não importando a nacionalidade dos migrantes (sou cidadão do mundo) e ao mesmo tempo são necessárias políticas sérias de planeamento familiar / apoio social de modo a atingirmos a tal sustentabilidade.
    A mim não me interessa uma Europa sustentável, num mundo onde grassa a pobreza.

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