terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Uma outra ideia de gestão

Os anos levo ligado à gestão de empresas, quer na vertente operacional, quer na vertente da direcção geral / gerência, trouxeram-me inúmeros ensinamentos que não se enquadram nos "quilos" de opiniões, tidas como verdadeiras, que todos os dias nos entram pelos olhos e ouvidos através da televisão, da internet ou dos periódicos da nossa praça.

Com efeito, são cada vez menos os comentadores que opinam sobre este tema e que fazem ideia do que é uma empresa e muito menos aqueles que conhecem o ambiente industrial.

Duas das pessoas com quem tive a sorte, e o orgulho, de trabalhar ensinaram-me inúmeras coisas que me servem de ferramentas diárias mas incutiram-me também algumas máximas que esses fazedores de opinião por certo não reconhecem.

“É impossível gerir sem conhecer o bafo dos operários”

“Temos que rentabilizar com os níveis de hoje”

“O dinheiro ganha-se calado”

A estas três somo uma da minha autoria que, apesar de discutível, pratico com prazer e reconhecimento dos meus funcionários actuais e passados, que já somam várias centenas:

“Só se deve mandar fazer aquilo que sabemos executar” (não esquecendo o por favor)

Só de os ler percebemos que os nossos comentadores não os podem apadrinhar, quanto mais considerá-los como máximas de gestão, mas são na suma o caminho para a gestão correcta e sustentável, com o respeito e apoio daqueles que são a alma das empresas – Os operários.

Para se gerir equipas é necessário ser-se parte da equipa e se uma equipa de produção trabalha das 6 às 14, o “chefe” deverá estar presente no início do trabalho. Ainda hoje chego à fábrica bastante antes do início do trabalho e antes da grande maioria dos funcionários, pois não se pode pedir pontualidade se a fábrica começa a laborar às 8 e os “chefes” entram às nove, nove e meia dizendo que ficam mais tempo no final do dia (com a fábrica parada).

Está hoje muito em voga (eu ouço-o há 15 anos) aquilo que chamo a “gestão do if”, isto é, os resultados não são (foram) os esperados mas, se não tivesse chovido, se a máquina não tivesse avariado, se o fulano não tivesse faltado…os resultados até tinham sido positivos. Uma coisa é previsão, outra é gestão e gestão operacional, e nesta sabemos que as máquinas avariam, que chove, que há absentismo, mas temos que ser suficientemente maleáveis (e ao mesmo tempo intolerantes com a ignorância, com a malandrice e com o deixa andar) para manter a nossa operação rentável mesmo quando todos os factores são adversos. Às vezes é imperioso suspender a produção, outras vezes é necessário estender o número de horas diárias, dependendo dos níveis actuais de produção / encomendas / vendas.

O que dá mais gosto ao comum gestor / empresário é fazer gala daquilo que a ganha. Nada mais errado. Ganhar dinheiro é o primeiro, o segundo, o terceiro e o último (único) objectivo de uma empresa pois as funções sociais da empresa só poderão ser levadas a cabo se ganhar dinheiro. Mas fazer gala disso ou publicitá-lo não traz qualquer benefício à empresa mas alerta os concorrentes, faz duvidar os clientes e cria uma sensação de injustiça nos assalariados, pois por muito bem que recebam, por muitos prémios que tenham consideram sempre pouco quando os patrões andam a exibir os rendimentos.

Por último a minha máxima, ao executar primeiro uma qualquer operação (por mais penosa que seja) a chefia não só ganha o respeito dos operários como se apercebe muito facilmente das dificuldades que o operador vai sentir ao executá-la e dos possíveis constrangimentos que essa operação implicará no decurso da execução de uma encomenda, podendo determinar incumprimentos de prazos de entrega, factor primordial na conquista de encomendas nos dias de hoje.

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