quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Água - que bom seria se estivesse enganado

Há alguns meses, na altura que a CMOvar pediu para aderir à ADRA, tive oportunidade de escrever sobre a água bem público e sobre a asneirada que seria a privatização deste serviço básico referindo-me muito especialmente ao município de Ovar.

Escrevia eu na altura, entre outras coisas, o seguinte:

Obviamente que deverá ser cobrada uma taxa pelo seu consumo, taxa essa que não deverá ter em conta o consumo absoluto de um agregado familiar mas sim o consumo “per-capita” desse agregado e respeitar o principio de que a quantidade mínima diária para a vida humana deverá ser taxada com um valor simbólico próximo de zero.”

O tempo tem demonstrado, como noutros sectores, que este movimento leva:

A um aumento dos preços galopante para o consumidor final, facto que se compreende facilmente pois o objectivo deixa de ser servir o cidadão e passa ser apresentar lucros,”

Como cidadãos e parte mais interessada nesta matéria temos lutar contra este movimento que, a ir para a frente, será mais um factor de exclusão social.

Ora, como é sabido, Ovar foi admitido na Adra sendo seu membro de pleno direito no dia 1 de Janeiro de 2011 e a gestão profissional, competente e motivada por rápidos resultados, não perdeu tempo e enviou a todos os consumidores as novas tarifas (água e saneamento) que são, por assim dizer, “obscenamente privadas”.

Confiram, por favor, os aumentos ponderados de água e saneamento:

1º Escalão (0 a 5 m3) + 1,7%

2º Escalão (6 a 15 m3) + 3,4%

3º Escalão (16 a 24 m3) + 33,7%

4º Escalão (>25 m3) + 33%

Perante isto, e como não quisemos, ou não fomos capazes, de lutar resta-nos deixar de tomar banho!

P.S.- Ontem estive numa reunião em que estavam presentes vários membros da assembleia municipal e, quando por acaso, se falou neste problema todos assobiaram para o lado, pois na altura própria apresentaram e defenderam esta adesão como a solução de futuro. Já estamos a preparar o futuro, ou pelo menos, a pagá-lo.









sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Aos meus amigos, por Fernando Pessoa através de um grande Amigo


cid:49F0896EC11A415AAC55C52524CEE626@SeverinoPC



"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhámos.


Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.


Hoje já não tenho tanta certeza disso.

Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.


Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas
que trocaremos.

Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.


Vamo-nos perder no tempo...

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?

Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!


- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!

A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.

E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.


Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a
sua vida isolada do passado.

E perder-nos-emos no tempo...


Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não
deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...


Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos!"


"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,

mas na intensidade com que acontecem

Por isso existem momentos inesquecíveis,

coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"

Fernando Pessoa



domingo, 14 de novembro de 2010

Timor e a insensibilidade do PR

Timor Leste pretende comprar dívida externa Portuguesa!

Questionado sobre o assunto, o Presidente da República, diz que a notícia não o choca e que o fundo do petróleo é para ser aplicado em fundos internacionais.

De cavaco já sabia que a cultura não abundava e que vive há muito num mundo de sonho mas, surpreende-me a sua completa insensibilidade, quando se preocupa em dizer que Portugal não anda de mão estendida (como se tal não fosse verdade, ou fosse vergonha maior) mas não se preocupa em dizer que esse plano de Ramos Horta/Xanana Gusmão é um insulto e uma grave ofensa aos seus compatriotas que todos os dias morrem à fome.

A Xanana já o ouvimos dizer que é necessário fazer uma estrada porque lhe doem as costas de tantos buracos, não para servir a população mas, de Ramos Horta esperava-se mais.

Deixo aqui parte de um artigo do “Loron Económico” de 11 de Outubro de 2010 que relata a situação de pobreza estrema do país:

Timor Leste no “Índice da Fome no Mundo 2010”


Aumento da fome é alarmante. Onde?
- Angola, Moçambique, Guiné e Timor Leste


Índice da Fome no Mundo 2010 revela que em português há muita gente com a barriga vazia, o que nem sequer é novidade. Mas nada melhor do que assobiar para o lado...

Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste integram uma lista de 25 países onde o aumento da fome é alarmante, segundo revela hoje um relatório do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares. Por outras palavras, nestes países os poucos que têm milhões têm ainda mais milhões, e os milhões que têm pouco ou nada passaram a ter ainda menos. Ser gerado com fome, nascer com fome e morrer pouco depois com fome parece ser uma fatalidade na Lusofonia.

Os 25 países onde a situação é alarmante são, por ordem crescente de gravidade, Nepal, Tanzânia, Camboja, Sudão, Zimbábue, Burkina Faso, Togo, Guiné-Bissau, Ruanda, Djibuti, Moçambique, Índia, Bangladesh, Libéria, Zâmbia, Timor-Leste, Níger, Angola, Iémen, República Centro-Africana, Madagáscar, Ilhas Comores, Haiti, Serra Leoa e Etiópia.”

Está pois justificado que o nosso presidente não fique chocado. Eu fico.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Gente com eles no sítio

O juiz Afonso Dinis, do Tribunal Judicial da Comarca de Alenquer mostra como se faz:

Processo n." 1099/07.4GAALQ

*

Conclusão em: 04.11.2010 (por ordem verbal)

Em decorrência da recente aprovação, na generalidade do Orçamento de Estado para o ano de 2011, e sabendo-se, de antemão, as reduções a que as remunerações dos júzes irão ser sujeitos, bem como os tectos fixados para as deduções fiscais, o que conjuntamente, no caso do signatário do presente despacho, se traduz num impacto mensal de cerca de € 600,00 líquidos, a que acresce a redução mensal a que a remuneração do seu cônjuge igualmente irá ser sujeita, já para não falar no impacto do aumento de impostos ganeralizado a que todos os cidadãos irão ser sujeitos, o signatário terá, forçosamente (de modo a possibilitar que o seu agregado familiar honre os compromissos financeiros anteriormente assumidos à aludida aprovação), que reduzir o seu horário de trabalho (extraordinário e não remunerado) em cerca de duas horas diárias, o que se traduz:
- Por semana- em cerca de 10 horas
- Por mês - conabilizando 22 diar úteis -, em cerca de 44 horas mensais (o equivalente a 4,5 dias da trabalho normal);
-Por ano - contabilizando 46 semanas, dado que, cerca de 6 semanas correspondem a férias pessoais -, em cerca de 460 horas anuais (o equivalente a 46 dias de trabalho normal).
Esta redução obstará a que o exponente consiga em regra como até agora conseguiu designar as audiências de discussão e jurgamento, para cerca dos tempos mínimos legalmente previstos, pois que, como é óbvio, disporá de menos tempo para despachar o comummente denominado expediente"e remanescentes decisões.
Evidencia-se, ainda, e de modo a que não subsista quarquer dúvida que a decisão que infra se irá proferir não traduz qualquer represália (ex: greve de zelo) contra a situação supra patenteada, mas apenas e tão-somente, um caso de necessidade imperiosa de redução do horário de tabalho por motivos financeiros.

Neste contexto, cumpre, desde já, reagendar a audiência de discussão e julgamento já designada nos presentes autos.
Pelo exposto, dá-se sem efeito as 1ª e 2ª datas já designadas e, em sua substituição, designa-se os dias 03.02.2011 e 17.02.2011, ambas às 09h30m.

*
Notifique
*
(Documento elaborado em processador de texto e revisto pelo signatário)
*
Alenquer, d-s.


(Afonso Dinis Nunes)

sábado, 6 de novembro de 2010

Violência doméstica, quando chega perto custa mais

Há alguns meses escrevi sobre o dama da violência doméstica e o número assombroso de mulheres que são assassinadas pelos companheiros(?).

Hoje escrevo pela Emília.

A Emília foi a 30ª vítima do ano.

O assassino foi o seu companheiro de há cerca de um ano e, pelo que agora se diz, a violentava psicologicamente há algum tempo.

Nada de diferente das outras vítimas, portanto.

Aliás, a única diferença é que a Emília era uma pessoa das nossas relações, a quem falávamos todos os dias, que dava mimos aos nossos filhos.

Posso dizer que a Emília era uma amiga do Furadouro e também digo que o Furadouro chora com raiva este assassínio.

Espero que o responsável recupere do coma e apodreça na cadeia.


Até sempre Emília.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Nobre desilusão!

Este fim de semana a generalidade dos meios de comunicação social deu notícia que a candidatura presidencial de Fernando Nobre deve ao senhorio da sua sede de campanha cerca de € 100.000,00 dos € 108.000,00 do aluguer semestral.

Veio Nobre dizer que não é bem assim, que há umas questões com os metros quadrados utilizados e mais isto, e mais aquilo. Ou seja Fernando Nobre está preocupado com o acessório e até já veio dizer que a notícia só veio a lume para o queimar.

Quanto às questões da dívida e do contrato nada tenho a dizer e os tribunais decidirão se, entretanto, as partes não se puserem de acordo.

Agora quanto às questões morais tenho algo a dizer:

O que leva Fernando Nobre, que se apresenta como o defensor dos sem defesa, como o homem que está fora do sistema e dos partidos, a julgar razoável gastar € 18.000,00 mensais no aluguer de um espaço?

Nobre sabe melhor que qualquer um de nós o que podem fazer € 18.000,00 no combate à fome, na luta contra a erradicação de doenças, enfim num programa de inclusão. Então se sabe, porque raio se permitiu esbajá-los no aluguer de um espaço de utilidade mais do que duvidosa e que no fim de contas será o povo português a pagar?

Nunca acreditei na candidatura de Nobre mas é muito triste quando descobrirmos que “o ídolo tem pés de barro”, que o homem que não pertence ao sistema age como os homens do sistema.

Mais valia que estivesse quieto e que nos poupasse a esta candidatura e às suas vergonhas.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

OLIVA, fim!

Um dia depois de ter sido vendido o que resta do património da nossa Oliva (Foi vendido por € 1.450.000,00 a um empresário de Ovar), aqui fica um belo texto sobre o seu património arquitectónico:

"Constituída em 1925, a OLIVA dedicou-se inicialmente à indústria de fundição, serralharia, serração e carpintaria mecânica, mas foi como fabricante de máquinas de costura que se afirmou e expandiu nacionalmente. Inaugurado em 1948, o edifício das máquinas de costura irá encerrar uma produção que rivalizará no mercado nacional, durante cerca de três ou quatro décadas, com uma das principais marcas internacionais – SINGER. Aceite como um meio de produção fundamental das classes mais pobres, proporcionou e sedimentou um ideário profissional de massas – a costureira. A difusão da máquina de costura OLIVA assumiu, assim, uma importância social ímpar, tanto no continente como nas colónias portuguesas africanas, só possível através de uma sábia articulação entre o produto, a sua publicidade – destacando-se a organização dos concursos do vestido de chita e os múltiplos pontos de venda que na sua maioria tinham formadoras só para estas máquinas. A utilização destas diversas técnicas de publicidade e de venda, tão próprias da sociedade de consumo, foram com algum pioneirismo difundidas por Francisco de Almeida Grandella, em finais de Oitocentos.

A laboração contínua, durante cerca de oitenta anos, e a introdução de novas produções, como os tubos ou banheiras sedimentou um vasto recinto industrial que em 1987 ocupava uma área de 130.000 m2. É num articulado compósito de soluções variadas associadas a um evoluir de épocas culturais e tecnológicas, submetidas a uma lógica de crescimento orgânico, que se pontuam imperdíveis rasgos de modernidade arquitectónica.

Moldado a um gaveto adaptou-se, na sua volumetria arredondada, o edifício administrativo de grande qualidade formal (1950). De renovada imagem funcional o grande vão, imposto à via pública principal, acentua a sua contemporaneidade num diálogo entre um vertical reticulado em betão armado, preenchido por vidros, e marcado decisivamente pela emblemática torre paralelepipédica, encimada por um relógio, e a horizontalidade correspondente ao estruturalismo dos pavimentos ou da cobertura em terraço, indiciando uma acentuada luminosidade interior. Associado a este moderno léxico exterior desenvolvem-se no interior grandes espaços abertos, constantemente iluminados, onde a organização das secretárias não se confina às rígidas áreas compartimentadas, lembrando, de algum modo, os princípios funcionais que Frank Loyd Wright imprimiu ao edifício administrativo da firma S. C. JOHNSON & SON COMPANY (1936-1939).




De notável concepção plástica, o edifício de fabricos gerais (1960) rompe, decisivamente, com as soluções da edificação industrial. Apresentando um grande domínio dos novos materiais, os grandes vãos, em pilar e viga rematados por uma ondulante cobertura em fibrocimento, são apresentados à via pública através de um plano arredondado trabalhado na repetição quadriculada dos módulos das janelas em gracifer, formando uma superfície de um purismo estético irrepreensível.
O edifício dos escritórios (ARS Arquitectos) é uma peça arquitectónica que integra um conjunto arquitectónico mais vasto e diverso, mas devido à sua imposição à via pública; à sua adaptação à morfologia do terreno e à verticalidade da sua torre paralelepipédica que se impõe na paisagem urbana desempenhando uma nova função reguladora através da presença do relógio, assume uma dimensão e uma escala de propaganda e regulação do tecido urbano económico e social. Este edifício através da sua modernidade desempenha uma função de sedução e imposição desta indústria para com a cidade, revelando também a importância que tinha atingido a nível nacional a partir dos anos 40.

A fábrica Oliva foi uma das mais importantes de Portugal, a partir essencialmente da fundação da fábrica de costura em 1948. De facto, a numerosa produção de máquinas de costura vai moldar o carácter e o sonho de muitas gerações que viam nesse objecto um meio de promoção social, formando-se centenas e centenas de costureiras por todo o Portugal e colónias. A grande rede de agências de lojas de máquinas Oliva espalhada por todo o país promoveu de tal modo este produto que as máquinas de costura Oliva eram as principais concorrentes da Singer. Por outro lado, esta fábrica atingiu um nível de desenvolvimento económico muito importante, sendo durante algumas décadas (40-70) uma das maiores empregadoras desta área industrial, chegando a ter cerca de 2000 operários."

Deolinda Folgado/ Docomomo Ibérico
Maio 2002