terça-feira, 24 de novembro de 2009

A verdadeira face oculta

Segundo a UMAR (União das Mulheres Alternativa e Resposta) 26 mulheres foram assassinadas pelos companheiros (maridos, namorados e amantes) desde o início do ano.

Arrepiante!

A estes números teremos de somar as mulheres agredidas que recorreram ou não a tratamento hospitalar, as agredidas psicologicamente e as agredidas sexualmente pelos companheiros. Se também somarmos os homens vítimas dos mesmos abusos pelas companheiras ou por familiares delas, facilmente concluímos que o país de brandos costumes é um país de uma violência extrema.

Notemos que este problema é horizontal e atravessa toda a sociedade, da direita à esquerda, dos muito pobres aos muito ricos, dos agnósticos aos religiosos, dos jovens aos velhos.

Este é um dos grandes problemas da sociedade portuguesa do século XXI, que em nada se distingue dos países do (chamado) terceiro mundo, que não se resolve com o rendimento social de inserção ou com uma ou duas doses Tamiflu.

Este é um problema estruturante que tem a ver com princípios, formação, educação sexual e vida em sociedade.

Este é um problema que se resolve com a interiorização da noção de Igualdade e de respeito pelo Outro.

Este devia ser o grande problema do país, mas não vejo qualquer partido político, organização religiosa ou associação (dita) cívica a colocá-lo como determinante nos seus objectivos.

Tenho vergonha deste país e desta sociedade que mata, que amesquinha, que destrói só porque não consegue o que quer.

Seremos mais Homens no dia que em que for notícia “um ano sem vítimas de violência doméstica”, aí teremos condições para nos preocuparmos com a Gripe A, a sucata do Godinho, as conversas do Vara e outros que tais.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Que face oculta?

A propósito do meu último “post” desafiou-me o Manuel Henriques a pronunciar-me sobre o escândalo.

Supondo que se referia ao chamado “face oculta”, é impossível considerar um escândalo pois eu vejo, no mínimo, dois e assim sendo qualquer comentário que eu faça tem que se referir a:

- Corrupção, nomeações para cargos públicos e postura dos nomeados;

- Direito ao bom nome, e reserva sobre a vida privada especialmente tratando-se de personalidades que desempenham os 3 mais altos cargos públicos;

- Segredo de justiça, sua ausência e abusos de jornalismo e de fontes não identificadas para a produção de “notícias”.

Comecemos pelo princípio:

A corrupção é por definição a compra de uma posição de poder. Apesar de em muitas sociedades se fazer crer que esta acção é aceitável (como por exemplo nos EUA), os princípios que norteiam a sociedade democrática e o estado de direito não são consentâneos com este tipo de procedimentos.

Em Portugal a corrupção, grande ou pequena, existe em todos os campos e desde sempre. Corrompe-se para tirar a carta de condução, para arranjar emprego, para não pagar uma multa, para conseguir um licenciamento e, também, para ter acesso privilegiado a negócios ou mesmo para enriquecer.

O curioso é que o pequeno corrupto é um feroz crítico do grande corrupto assim como o corrompido coloca (ou tenta colocar) o ónus no corruptor que, por sua vez faz o mesmo em relação àquele. Vemos facilmente o cisco nos olhos dos mas não vemos as trancas nos nossos olhos.

Além do problema de princípio e de podridão da nossa sociedade, este estado de coisas leva à sensação de total impunidade dos actores da corrupção e leva esses mesmos actores a traficarem influencias em todos e quaisquer negócios seja eles públicos ou privados.

No caso concreto, “face oculta” (infelizmente ligado às minhas duas terras Canas de Senhorim e Ovar, pela localização geográfica da O2) o caso é muito mais grave porque envolve o “roubo” descarado de bens de empresas (públicas e privadas) com a suposta conivência de pessoas que foram titulares de altos cargos políticos e de gestores que foram nomeados pelo estado.

Passemos para a questão do bom nome e da reserva da vida privada.

Temos a tendência para a telenovelização da vida política e social e com isso (por isso) tornamos em facto qualquer suspeita, mais ou menos fundamentada, sobre qualquer figura pública esquecendo o direito ao bom nome e à presunção de inocência. José Sócrates tem sido um alvo sistemático muito pelas invejas de uma sociedade que não lhe perdoa ter tirado um curso numa Universidade de pouco prestígio e, alegadamente, com diversas facilidades. Interessando pouco se estuda dossiers, se é competente, se é trabalhador. O que é realmente importante é que não pertence à nomenclatura e que por isso podemos atacá-lo.

Outro ponto extremamente importante refere-se à reserva da vida privada. Um presidente, um ministro, um juiz e todos nós, temos direito a ter os nossos amigos e a falar com eles, não sendo lícito utilizar a vida privada para condicionar a função pública. Este tipo de actuação caracterizou o estado novo e a PIDE durante muitos anos mas, os que hoje escrevem não sabem nem querem saber.

Explicando, qualquer dos titulares de cargos públicos que referi pode discutir e emitir opinião (qualquer que ela seja) numa roda de amigos sobre temas publicitados na comunicação social, não podendo isso ser confundido com conhecimentos formais e oficiais que tenham sido adquiridos no exercício das funções públicas que desempenham, logo essas opiniões não podem nem devem ser alvo de escutas ou ser utilizadas para atacar/justificar acções enquanto titulares dos referidos cargos.

Finalmente o segredo de justiça e seu tratamento por juízes, ministério público, advogados e, muito especialmente, jornalistas.

Como dizia hoje o antigo presidente, Mário Soares, o que me preocupa é face oculta da justiça. Como se vê, a lei para nada serve pois se não nos convém que seja o presidente do supremo ou o procurador geral a decidir, rebatemos as suas decisões com posições de pretensos juristas, ou com as decisões de procuradores regionais, ou juízes de tribunais de círculo. Transpondo para uma fábrica, quando não nos agrada a decisão do director, do engenheiro, do técnico ou do patrão vamos pedir a opinião do operário menos qualificado e com isso tentamos justificarmo-nos. Já passei por isso e já tive que lidar com este tipo de caciques em tudo iguais aos jornalistas da nossa praça (e de outras).

Não foi para isto que se fez Abril!

Enquanto não tivermos uma “classe de jornalistas com classe” enterraremos a nossa democracia um bocadinho todos os dias.

Para terminar, se eu fosse Sócrates exigia do Supremo e da Procuradoria a divulgação de todas as escutas e a seguir batia com a porta.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O nosso portugal!

Sou leitor atento dos jornais e acompanho com relativa proximidade a vida do país, no que nos é relatado pela comunicação social.

O caso face oculta, põe a nu o que é Portugal (um país de corruptos), leva a que muitos se confundam e tentem confundir a opinião pública, mas também traz à luz do dia a ignorância e impunidade com que se dão “notícias” e se acusam pessoas.

A espiral de desinformação é tal que é rara a notícia em que se pode acreditar, chegando-se ao ponto de um suposto jurista (não sabemos se é licenciado em direito, advogado, juiz, funcionário judicial…) travestido em jornalista fundamentar as suas opiniões em citações de periódicos que não fizeram o seu o nome e o seu mercado com base no rigor e na seriedade, refiro-me a Pedro Lomba e ao Correio da Manhã.

Corre por aí que o Sr. Manuel Godinho vai pagar pelo que fez e pelo que não fez, dando a entender que o Senhor nada fez de errado e que os grandes culpados são os que foram corrompidos. Ora eu continuo a acreditar na justiça, acredito que quem corrompe é criminoso e sei que há muitos anos que se contava à boca pequena o modo de operar desta organização. Quero com isto dizer que o caso não é de agora, nem os actuais governantes (administradores de empresas) são mais corruptos que os anteriores.

Cavaco não é diferente de Sócrates.

Arrepia-me ver vezes sem conta a entrada do Sr. Manuel Godinho no DIAP de Aveiro e o empurrão perfeitamente gratuito do Sr. da judiciária que mais não revela que a boçalidade daqueles que estão danados com o corruptor por não terem sido corrompidos. É muito fácil ser forte com os fracos e fraco com os fortes. Eu prefiro ser intransigente com os fortes e solidário com os fracos e sei (sofro-o na pele) que não serei rico nem subirei com facilidade mas tenho a cara lavada, a consciência tranquila e durmo bem todas as noites.

Recordo a este propósito a saída do Engº João Cebola da prisão em 95 ou 96. À sua espera estavam apenas (além dos familiares próximos) o “chauffeur”, a secretária e um dos seus colegas administradores. Todos os outros que tinham comido e enriquecido à sua mesa tinham desaparecido…

Recordo também, na minha passagem pela Oliva, após a saída do administrador único de que eu tinha discordado em muitas coisas, a necessidade que tive de proibir qualquer referência menos cordata que lhe fosse dirigida. Só pode atacar quem o faz de peito aberto e mostrando a cara…

Recordo ainda a minha saída da Maluesp (um filho que criei e fiz crescer) onde as posturas menos correctas e a falta de lealdade me fizeram abdicar de um bom salário e do muito que investi porque é mais importante ter a cara lavada do que ser “rico”.

Sócrates reconhece que falou e que vai continuar a falar com Vara, pelo simples facto de que são amigos. É isto que eu espero dos meus amigos que estejam comigo nos maus momentos porque nos bons e nos copos estarão de certeza.

Para aqueles que gozam com a licenciatura de Sócrates (e de outros) lembro-lhes que a Independente foi licenciada por um governo que era de outra cor e que certamente não terá (ia) menos qualidade que as Faculdades que nasceram como cogumelos nos idos de 80, em Viseu, em Famalicão, na Guarda e noutros recantos…

Sejamos sérios e exijamos aos outros somente aquilo que exigimos a nós próprios.